3. Dia cinzento, segunda feia, ostracismo total, olho para a estante e num instante imagino-me numa conversa com Charles (Bukowski), dias difíceis baby, imagino um charuto que trago como ele, não tenho tido muitos amigos para conversas literárias, a vida é um redemoinho que nos engole, meu amigo Casé, um vizinho tranquilo e quase zen é que atura melhor os meus delírios, sou capenga pra essa coisa de adaptar-se a tempos modernos, tanta falta de tato entre os seres, essa ganância que nos destampa da bondade, que estou ficando louco. O cachorro do vizinho late sem parar, as horas se derramam pelo dia, feito erva daninha num processo acelerado, se proliferam, logo, logo, a tarde chega, a noite invadirá taciturna a vida de todos, logo televisão, jantares, sala e cama, no pior sentido, é claro.
Neste sábado me pus ao cumprimento do dever, do bom marido, acompanhei a filhota, na verdade minha enteada, a um show de...arghh, pagode! num clube aqui perto, tínhamos que ir, pois se não fôssemos, e prometemos, eu não, a mãe dela, talvez ela não entrasse por conta de sua pouca idade, pois bem, foi a madrugada mais terrível de minha vida, eu e a mãe dela lá, feito dois avós, de lado, tudo bem que acompanhado de uma cervejinha, mas putz, nem assim, sai daí minha filhinha, ouvimos funk a noite inteira e da pior espécie também para tão somente, às 3 e maia da manhã o grupo de pagode entrar no palco e dar o seu showzinho, notei que a juventude estava lá meio perdidona, queria mais era sarrar, e minha filhinha lá no meio dos tubarões, coisas da idade, fazer o quê? saimos de lá às cinco, acordamos quase a 1 da tarde, aquele ritual, levanta, escova os dentes, liga a televisão e mais mesmice na cabeça das crianças, programas fúteis, com mais música ruim e sem nenhum conteúdo, entretenimento alienado, e ela com suas amiguinhas lá, vendo e comentando aquilo, para mim já é demais, voltei pra cama e resolvi dormir o resto do dia, com sorte ao menos eu talvez não viva outro pesadelo...talvez!