Quase uma semana de silêncio estrondoso dentro da minha cabeça; Não nos falávamos mais, mal dormíamos juntos. Era constrangedor a dor e a ausência de amor, dentro de uma casa, pessoas que não se falam, se desprezam e se estranham. Me sentia um hóspede dentro da minha própria casa. Ela fazia o seu papel, eu tentava estar à altura, mas eu era presa fácil, não teria estômago para seguir até o fim com a minha decisão de responder como ela fazia, com silêncio e desprezo, toda aquela situação. Teve uma hora que achei que estava ganhando a disputa, mas eu sabia, como sempre soube e sei, que era uma triste ilusão minha. Perderia de novo. De uma hora para outra, eu já esperava, tudo mudaria, sentimentos dessses tipo sempre me destrói e eu invariavelmente sempre sucumbo. Batata! Enquanto eu amadurecia a idéia de deixá-la de vez, sair de casa de uma vez por todas, rascunhava num papel, frases de canções que fizera parte de nossas vidas felizes de outrora, como se escrevesse para ela, deixei a folha com essas declaraçõese perto do computador, onde ela frequentemente habitava. Quando cheguei em casa à noite lá estava ela, fingindo que não lera nada, mas algo se instalou entre nós, uma esperança ainda inalcansável, mas uma esperança, de que tudo mudaria, mas mesmo assim, eu ainda estava muito magoado com tudo, então ignorei e o tiro mais uma vez saiu pela culatra. Ela sempre é muito mais forte que eu. Eu não sou assim, vingativo, calculista, ao contrário dela que é forte e cruel. Na manhã seguinte, quando ela se preparava para sair para o trabalho e eu ainda me via deitado na cama, sonolento e semi nu, de olhos semi cerrados a vi se arrumando em frente ao espelho, linda como eu a via, vaidosa e feminina; fiz menção de lhe dirigir a palavra mas recuei, calei, senti que não era a hora mas num misto de mágoa e paixão resolvi arriscar. "Estou com saudades de você!" Ela não respondeu, prossegui sem medo. "Posso te abraçar?" Ela disse que não. Abracei assim mesmo e para minha surpresa ela baixou a guarda e me correspondeu me abraçando também, me abraçou forte como se sentisse muito, ficamos assim por alguns segundos, a paz parecia que voltava. Beijei-lhe a face, Ela pela primeira vez em uma semana se despedia de mim antes de sair...
Duas horas e meia depois o interfone tocou, era o entregador de uma loja de eletrodoméstico trazendo um fogão que ela encomendara dias antes. Recebi a mercadoria, liguei para ela em seguida, dei-lhe a notícia da entrega e ela com a voz feliz agradeceu, eu com o coração mais leve pus o telefone de volta no gancho. A vida podia estar voltando a sua normalidade. Contudo, devo dizer, ainda sinto muito...